segunda-feira, 30 de maio de 2011

Sentado

Eu havia feito tudo conforme manda o figurino, havia abotoado um botão de cada vez, colocado a meia no pé direito primeiro, e amarrado os cadarços com delicadeza. Os ventos e a lua anunciavam um futuro ineficaz, monótono, mas transformador. Tudo isso me exigia muita maturidade, uma evolução a qual eu não possuía. Assumir tudo isso era por demais doloroso. Como reconhecer uma derrota quase, quase, quase vitoriosa? Impossível. Eu lia horóscopos procurando respostas matemáticas e lógicas. Piada! O pior é que no fundo eu ainda tinha esperanças. Era um resquício do virtuosismo cristão resultante de doze anos em um educandário de freiras. Pedia conselhos alheios e evasava ainda mais a energia que devia estar concentrada no meu exclusivo microcosmo. Todos estes apelavam por paciência e a mim não restava muitas alternativas a não ser acatar. Piamente.

domingo, 22 de maio de 2011

Deslcupe, mas sou Dionisíaco...

Naquela manhã eu acordei com a sensação de vazio, mas um vazio esvaziado, uma vazio que um dia já foi cheio, o que muda tudo. Eu estava deitado perfeitamente vestido com as minhas vestes mais bonitas de dormir. A questão era como estava alí. Minha memória carregava a lembrança de dois ou três fatos que ocorreram de fato ou não. Essa sensação era algo novo, algo de que não queria provar novamente. Como arcar com as consequências de erros dos quais nem sei ao certo se cometi? Até hoje essa sensação me afeta e ela me provoca a ter dúvidas sobre coisas óbvias, como as cores do arco-íris. É como se tivesse entrado em um êxtase dionisíaco e ao sair dele 10% desse êxtase tenha se instalado parasitamente em meu ser. O resultado disso é que eu sigo dionisiacamente nesse mundo tão apolíneo e sóbreo e me sinto estranho, animal e destoante sem ser. Sou diverso dentro da diversidade e isso não é ser diferente. As pessoas podem não entender e o meu grau de maturidade ainda não atingiu a plenitude de entende-las também. Respeito seria importante, mas também é um caminho chato e que meus dezenove anos me permitem fugir, por ora. NÃO! Me entregar nessa zona confortável seria ser fraco, seria ser pobre! Isso é pior ainda. Mesmo que eu saia nas pontas dos pés, me desligando igual a um rádio não mudaria o fato de que a tomada está pronta para re-ligar. Minha vida é esperar, esperar por algo que eu procuro. E se ela chegasse quando eu saisse para procura-la? Não dá mais para ser assim, não dá, mas sou.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Venha e mude a minha vida de vez!

Essa espera me enlouquece. Essa espera de algo que talvez nem venha agora, mas que no fundo eu sinto tão presente. Como lidar? Mamãe tenta me acalmar com palavras doces, mas a amargura e a angustia são predominantes. Nessa sensação eu embarco na esperança de esquecer e continuar vivendo para quando ela chegar de fato, eu seja pego de surpresa e fique feliz e rindo, achando absurdo tudo aquilo que senti. Venha, chegue logo. Eu sei que sou capaz de te administrar com maestria. Venha e mude a minha vida de vez! Venha e me faça feliz como quem ama e é amado. É um apelo desesperado. Venha e me me jogue para o alto, onde eu possa ver tudo aquilo que eu conquistei e assim poder acreditar em mim.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ditadura Infantil

Naquele dia o horóscopo havia me mandado reavaliar os meus próprios valores. Os rapazes sorriam com dentes de açaí e eu andava com a voracidade daquele que nunca quer chegar. Mas algo diferente me ocorreu naquele mesmo dia, o dia o qual se aproximava do solstício da minha vida. Eu vivenciei um momento em família peculiar. Apesar de saber que nada daquilo era uma novidade, mesmo vendo tudo se repetir, eu percebi coisas antes adormecidas ou ignoradas. Eu abri um canal esclarecedor dentro de mim. Os culpados agora eram inocentes e os juízes eram condenados à prisão perpétua pela arbitrariedade com que eles agiram com corações não tão alheios assim. A leviandade sempre esteve presente, mas com a sutileza de um elefante branco dentro de um mar de leite e mesmo falando por escrito, com palavras específicas eu atingia esses corações não tão alheios assim. Escrevia o presente no passado e o futuro não cabia no moleskine azul turquesa. Dito isso, poderei continuar do ponto zero, acreditando no poder das palavras como algo que se materializa literalmente.