segunda-feira, 6 de abril de 2015

resolução de um fim anunciado desde o início

Um clichê só é um clichê porque deu muito certo, tão certo, que foi repetido a exaustão. A coisa se torna gasta, esgarçada, desbotada de tanto ser repetida, mas no fundo, lá trás, na origem da coisa, na origem de tudo, ele, o clichê, estava coberto de razão, de verdade. Ele está apenas numa fase ruim, injustiçado pelo tempo gasto sobre ele. Um dia foi novidade. Um dia foi brilhante e talvez, assim como a moda, ele volte, renovado, ou mesmo como é, apenas num outro tempo, sobre novos olhares. Por isso, por mais que depois de tudo, depois de todas as coisas, por mais que já estejamos cansados de caminhar, de tentar e não conseguir, a homenagem mais linda a nós mesmos seria olhar para trás, para quando começamos, e ver, com nossos próprios olhos, o porquê de termos colocado nossos pés para fora de casa, assim, desse jeito, num mundo tão maravilhoso, num mundo tão cruel. Que força é essa que nos faz abrir os olhos? A olhar para o céu nublado, para o termômetro acima dos trinta e mesmo assim sair de casa todos os dias? Isso tem a ver com os nossos clichês, com as nossas crenças mais íntimas, que de tanto repetimos, esquecemos, porque esgarçou, desbotou, mas é aí, nesse ponto, nessa parede descascada pelo tempo que moram os sonhos, as nossas verdades irrefutáveis. Cabe a mim, a você, resgatar tudo isso do lixo, limpar, repintar as partes feias e seguir em frente. E isso é o bom da vida. Sem regras, sem mágoas. É ela como ela é. Fria e quente. Linda e feia. Estamos só de passagem. O mundo é antigo. Nós somos novos. Nós vamos embora logo e o mundo fica com o que deixamos para ele, com o que fizemos de nós mesmos.