sexta-feira, 27 de abril de 2012

Um brinde ao fracasso

Viva a dor. Aproveite cada seqüela da mesma, pois só assim você terá feito algo de bom, mesmo no erro. Olhe para si com os seus olhos da infância e veja de verdade quem é você, sem amarras. Jogue-se no novo, deixe o vazio preencher-se com o que há em nossa volta. Às vezes o conhecimento nos amarra. Na guerra, por exemplo, a ignorância do soldado raso o coloca na situação limite, na mesma que o coronel, mas por qual razão, este ignorante soldado vive, prossegue na guerra, e o experiente coronel não? Ele tem a confiança daquele que não sabe ao certo onde pode ir, não sabe os limites do próprio corpo e de todas as possibilidades externas, ao contrario do coronel. Essa inconseqüência faz com que o soldado deixe este mesmo vazio se preencher, deixa a pureza das ações acontecerem sem nenhuma significação anterior. A inconseqüência do herói grego é a alma do negócio. Porém deixar de aprender é suicídio, crime inafiançável. Contar com a sorte não é nada inteligente. A solução está no eterno reencontro consigo mesmo. Não esqueça quem és. Não perca o centro de sua personalidade. Viva. Deixe a dor percorrer com a mesma intensidade da felicidade e somente desta forma conseguiremos chegar. Aonde?  

Ferida Aberta

Vez ou outra ainda pensava naquele dia triste e quente de outono. A mesma sensação voltava em mim, ódio na perda, no erro de não resgatar a essência e me deixar levar por intelectualidades que censuravam o meu verdadeiro eu. Como pude esquecer-me de onde vim? Perdi em mim o menino doce que um dia fui, aquele o qual várias vezes realmente tentei fugir, cedendo ao desejo da mudança. Consegui. Construindo-me a partir do olhar alheio. Teoria da verdade. Quem fui não sou mais. -And now- Agora, quando eu havia atingido o mérito percorrido por todo esse tempo, pecava no mesmo lugar só que na contra mão. Fugi de mim durante o tempo e agora o que deveria era me reencontrar. Yin-yang. Não era ir nem vir. Era encontrar um meio termo entre o que fui um dia e hoje sou. Perdi-me entre o identificável e a personagem de mim mesmo. O couro tratado modifica-se e cede à mudança. Vou ficar, aportado, aqui a espera de acomodações. Só assim encontro. O quê?

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Depois daqueles dois dias

Aquele menino, hoje é homem com choro preso, querendo gritar, querendo amar. O vosso apartamento conjugado não permite tamanha demonstração de sentimentalidade. Ele não acredita mais nos seus próprios sonhos, nem mesmo em seu próprio amor próprio. Vida amarga aos olhos daquele que sente a agulha. Cada qual sabe a grossura de sua veia. Mais uma vez perdeu. Mais uma vez não conseguiu suplantar suas próprias vontades em relação a ele mesmo. Deve ser esse o sentimento da mãe abortada, pensou o rapaz. Ir, seguir, prosseguir e nunca chegar. Ameaças nunca findadas, atrapalhadas pelo o único inimigo conquistado por ele em vida: O próprio. Não queria ir embora com aquele choro dentro de si, aquela dor que vira câncer não poderia ali estar condensada em sua voz, pulmões e pulsos. Não restava mais nada a não ser o pedido de conseguir continuar sem perder as forças, sem desistir, sem desacreditar-se.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Deixe o ódio entrar fora

Eu me doei tanto que me arrependo da vulnerabilidade ocasionada por esta ação. Morro a cada palavra trocada entre estes que consomem a minha existência focada no amor. Tudo bem, respira, relaxa, estou exagerando. Não morro um centímetro. A ficha cai quando me vejo melhor, num lugar superior. Vivo. Sou Pedro, Just Pedro. Estes que tentam me matar, mesmo sem consciência disso, não podem nem se quisessem de fato. Sou forte, sou da zona norte, não me condene. A questão está simplesmente engendrada numa relação de posse. Roubaram meu brinquedo de amar e me vejo perdido sem ter onde focar a minha produção. Porém esta minha inteligência emocional não absolve o ladrão, é mérito meu! Anos de auto-análise, obrigado Sandra. Desejo ainda cuspir em seu ataúde. Ladrão de vidas, ladrão de almas. Se naquele dia quente que findava o verão não tivesse eu o ignorado em frente à barraca de açaí... O que vai, volta e hoje pago o meu pecado, amar errado, mas me arrependo de ter agido contra mim e a seu favor, tentando assim confortá-lo por simplesmente não ter dado sorte nesta encarnação. Por gentileza, não dê as caras por aqui, deformá-la-ei caso ocorra.

domingo, 15 de abril de 2012

La Usurpadora ou Te Vomitei

Sabe aquela sombra que te persegue onde quer que vá? Sabe aquele peso sentido nas costas quando o mal se aproxima? Pois é. Demorei meses para perceber toda a carga negativa vinda do interior. A energia veio aos poucos querendo engendrar-se como um elemento da infância, mas como tudo que tenta, mesmo que à força, uma legitimação da vida, mais cedo ou mais tarde se revela falso, barato e obscuro. Ela surgiu como um filho bastardo clamando pela acolhida, chorando pelos cantos o descaso sofrido, vitimizando-se por simplesmente ser. Aos poucos e com certa insistência inconveniente acomodou-se mesmo sem ninguém querer, um penetra, que chega à festa e faz de tudo para ser bem quisto e os convidados tomados por um sentimento de vergonha alheia acabam fazendo toda a cerimônia, rindo para não chorar. – Fique querida, você não é uma dos nossos, mas quem sabe possa vir a ser um dia?

Com o tempo tudo no corpo já a identificava como parte dele, uma parasita que uma vez engendrada em nossos corpos, o habita e se apropria mesmo sem ninguém querer. Uma lombriga, habitante da parte mais insalubre do corpo, um ser que se contenta com o resto, com o pior do que temos para oferecer. Mendiga que mesmo estando ali, todos os dias na rua a qual transitamos, passa a ser parte da nossa calçada, de modo que já não nos incomodamos mais. Simplesmente existe e damos atenção por uma prosaica relação forçada.

O fato é que ela fitava-me com freqüência e aos poucos esta, que nomino como energia, convenceu-me. Conseguiu lavar meu cérebro. Conseguiu se achegar. Sou presa fácil com pouca resistência. Por que não dar uma chance ao novo? Por que não abrir-se para o vazio e deixar que o mesmo se preencha com algo que venha mesmo de um lugar que a priori seja ilegítimo. Quem sabe com a minha imensa generosidade ela possa se enquadrar? Engano meu, máximo engano meu. Ela pede a mão, dou-te o braço e mesmo assim a danada sente-se out, filha ingrata, amaldiçoada pela mãe generosa. Desde já.

Chegamos a um ponto. Ela já não se sacia mais com o que dou. Tomou-me de tal maneira que de certo modo duvidei de minha própria personalidade. Será que estava pensando mesmo a partir de minha própria genialidade? Ou simplesmente ela estaria corrompendo-me aos poucos? Não se satisfazia mais em simplesmente me seguir, não queria mais stalkear, queria ser, queria me ser. Fodeu. Queria tudo em mim, do luxo ao podre, queria ser as minhas entranhas, queria ter o meu batimento cardíaco, queria mesmo defecar as minhas fezes. Não queria beber mais a minha urina, queria uriná-la em meu lugar. Queria o trapo o qual vestia nos dias frios, quando a vaidade errava a minha porta. O amor o qual dizia sentir ferozmente por mim era doença. Agora, ela ultrapassa a sensação mundana e emerge em meu espírito.

Quis tanto ser eu que, obviamente, não conseguiu. Virou uma cópia barata. Uma k7 com defeito, repetindo em slow motion a minha ladainha na forma equivocada. E na forma, como ela deveria saber por me estudar tanto, era algo rasteiro, superficial, que não mergulha que não mede o profundo. A única solução para ela naquele momento era nascer de novo, porém eu jamais poderia prever o ataque que se sucedeu de forma tão baixa e amoral. A leguminosa tentou roubar meu coração, tentou usurpar a base do meu sentimento, queria sentir no cerne do meu existir o que sinto. Aproximando-se do ariano tentou ver o que via, tentou amar no meu lugar. Não queria mais a imagem e semelhança, queria ser, na raiz da questão, o que apenas um louco, insano poderia tentar. Tentar o indizível, o impossível.

Hoje peço: - Saia pela porta dos fundos.

sábado, 7 de abril de 2012

colo sem pai

O meu mal foi pensar que uma –conclusão- sempre seria benéfica. Não. Naquela noite de sábado eu percebi que o seu amor fraternal engendrava-se na obrigatoriedade em amar. Concluí. A falta de espontaneidade nas ações é tão plena quanto uma - plastic bag in the Wind-, voa sem direção, fugindo de sua verdadeira função. Tens tanta sorte e és tão ingrato. Asa à cobra. Não agüento o mesmo copo, o mesmo teto, o mesmo céu, este que cinza me faz lembrar os dias tristes, aqueles em que me afoguei sem que me salvasse. A poesia de que falo em minha vida não tem nada a ver com o materialismo taurino com o qual leva a sua em meio a esta superficialidade a qual o remete a um medo de se afogar nas próprias dores de pai, de filho e de marido. Afogo-me na tentativa de buscar um núcleo que me diga quem sou. Enquanto isso, eu sei mais de você do que você mesmo. Significa.

domingo, 1 de abril de 2012

de/para

Você jurou chorar frente ao meu ataúde. No entanto jazemos um ao outro e pelo que soube de papai, você está no ápice, feliz e não sente falta alguma minha. Algo que há tempos passados jamais poderíamos considerar são. Por mais que a vida dê voltas, o amor não. O meu não. Você parece ter amadurecido e se estabelecido atrás de um balcão, assalariado, bem assalariado, financiando o seu novo amor por aí. Eu não. Eu ainda vago por letras organizadas em frases que formam livros, atrás de respostas para essa dor, esta falta de algo que nunca tive, esta expectativa insana, duradora, por você que nunca veio e não virá. Que má é essa esperança, sobretudo, neste imediatismo contemporâneo, em que as TVs de plasma vêem antes do amor próprio. Em sua linguagem me sinto financiado também. Sinto você como um apartamento classe média, dois quartos, sala, cozinha e sem dependência, pago em 147 vezes, ainda estou pateticamente na parcela 17 gritando para o mundo minha casa própria. Que grande anedota é você. Jura que me esqueceu? Como pôde? Você mora dentro de mim!

Ai Ai...

Minha vida também ficou bem melhor sem você. Conheci as melhores pessoas para carregar para o resto de minha vida. Inteligentes, generosas, que me entendem, falam minha linguagem sabe? Incrível como mudei. Irremediável como você jamais entenderá um por cento da minha complexidade e isso já basta para fazer de você inadequada para mim. Ou seja, a partir do momento que desejo você diferente do que és, o encanto se quebra. Mudar o outro vai contra ser feliz. Logo, desisto de novo. De você.

Um beijo sincero, porém sem carga.

Pedro.