segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Doce ou travessura

Eu era do tipo de criança que se por acaso uma mosca sobrevoasse o meu entorno, eu a fitava acompanhando cada detalhe, cada contorno do seu vôo incerto até que ela sumisse de minha vista. Eu era “vítima”, ou não de uma criação construtivista inconsciente. Mamãe era legal, Papai também, mas isso não vinha ao caso. O fato é que eu era mesmo distraído e essa pequena característica me levou muitas vezes a vivenciar experiências curiosas.

O ano era de 2000 e entre pães de queijo e monstros digitais eu vivenciava o auge dos meus nove anos de idade. O antecedente, confesso, não me recordo, porém imagino. Estaria eu com meu 1 metro e 28 centímetros de altura sentadinho em uma cadeira fria azulada tendo aulas de inglês (a palavra newspaper veio a minha cabeça), com tantos estímulos imagéticos e sensoriais, com certeza o inglês era o que menos importava para mim naquele momento. Contudo, ao ouvir a palavra Hallowen, a teacher fisgou minha atenção e eu me lembro de suas palavras “Venham fantasiados e digam “Trick-or-treating”, foi só. De fato haveria uma festa de Hallowen, porém não aconteceria no mesmo dia o qual havia premeditado. Não me lembro de tudo, mas ainda sei exatamente qual fora a sensação de entrar em sala de aula e me deparar com todos os meus coleguinhas vestidos sobreamente com roupas Sport, enquanto eu estava equipado com capa, dentes afiados e sangue ficticio no canto da boca. Apavorante. Não, a minha fantasia não era apavorante, a cara dos meus amiguinhos vestidos em tons de bege, sob o meu ponto vista, era apavorante. Eu disfarcei, tirei a capa, tirei os dentes e limpei meu canto da boca como quem acabara de comer uma deliciosa torta de cereja, sentei-me e disse: - Meu pai segue tendencias americanas, por isso ele me obriga a me fantasiar no dia de Hallowen, pouco verossímil, porém espirituoso.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Pós-potência

São as nossas escolhas que determinam quem realmente somos, ou quem realmente aparentamos ser. Até aqui nenhuma novidade, Aristóteles já dizia isso antes de Jesus nascer. Ao ver pessoas com características bem definidas querendo esconder o que são me causava uma sensação de vergonha alheia, como se uma maquina de lavar estivesse trabalhando dentro de mim. Seria mesmo patético, ou minha sensibilidade é que estava friamente apurada? Eu trabalhava com imagens, metáforas e às vezes tinha a sensação de não estar sendo muito claro. Azar de quem não entende, ou leviandade? Não faço a menor ideia, porém essa acidez era muito aquém do que pretendia, era rebeldia, quase uma dinastia. Rimar não fazia parte dos meus planos e eu sem querer querer me traía e repetia palavras a meu ver.

domingo, 14 de novembro de 2010

óbvio

Estou falando outra lingua com as pessoas de onde vim. Estou incompreendido, não consigo. Olho em volta e não entendo aonde cheguei e porque, mas estou feliz por um lado. Prefirindo omitir um lado do outro por pura supertição, medo e um certo controle, eu me calo, ofego, susurro, arfo e uso verbos na primeira pessoa do singular. O escuro em que me encontro é quente e úmido como um brigadeiro recém tirado do forno. Vomito palavras e engulo silencio. A ambiguidade molhada reflete no calendario e a única imagem clara que enxergo é a quarta-feira que se aproxima. É o solstício da minha vida. Vejo tudo em slow motion e no presente momento, somente nesse centésimo de segundo, não era o que pretendia.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Por hora

O que ficou sem ser dito agora não tem a menor importância. A morte leva consigo a materialidade e deixa comigo a imaterialidade do seu ser. Porém tudo aquilo que havia de ter sido dito paira sobre o que fui um dia e o que talvez um dia juntos fossemos. Essa linha tênue me separa de você. A palidez do seu rosto me transporta para um lugar o qual eu não pretendia viver há sete dias passados. Nada mais faz sentido e eu me sinto repetido como um clichê francês. A conclusão não viera nos últimos dias e eu sem palavras deixo tudo assim: INACABADO. Por ora...

Vespertino

A culpa ilegítima o meu sentimento. O sonho de criança se assombra. O amor se corrompe. A vida se torna gélida e você se torna o caminho mais longo até o meu coração.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Escrita bipolar

Minha escrita se modificara nos últimos dias, não quanto ao conteúdo, não sei, talvez sim. Quanto à forma com certeza, a grafia mudara, sem sombra de dúvidas. Talvez devido à seqüência de vômito ocorrida na última semana. O fato me deixara com um tremor na mão direita por um determinado tempo. O olhar censurador da Rainha Branca, não me afetara mais como antes. Teria eu adquirido minha tão sonhada independência? Pela primeira vez em dias um sentimento de grandiosa euforia havia invadido o meu miocárdio e apesar do termo de cunho científico a sensação não poderia ser mais metafísica. Estava satisfeito por usar um par de botas que ganhara de presente no último natal, afinal de contas a primavera já havia chegado e o frio teimava em não ir embora para o norte. Acabara a leitura de um livro de 590 páginas. Sentia-me normal demais para o meu gosto. Será? Aconchego. Essa era sensação! O sentimento era intenso de verdade. Eu estava sentado em uma dura cadeira escolar cinza claro e o aconchego me confortara como se estivesse esparramado na cama dos meus pais acalentado por fofos edredons de algodão egípcio, como poderia? A bipolaridade me assolara, mas como? Era a personificação da esquizofrenia. Havia pouco estava mergulhado na mais profunda angústia e no presente momento degustava o doce sabor da euforia? Obtinha plena consciência de tudo. Conhecia o fato de que a felicidade era efêmera, o que a i - legitimava imediatamente. Felicidade temerosa era o que havia. Estava bipolarmente “peripético”.

Aprazível

Era primavera e a cabível fertilidade não havia aprazado minha vida. As pessoas com quem convivia diariamente pareciam pragas a destruir minhas grandes e belas folhas verdes. A perspectiva de um futuro incerto e no mínimo estressante se apresentara à minha realidade e por um instante tudo que havia construído até ali parecia se ruir como um castelo de areia que é levado pelo repuxar das ondas do mar na praia. O azul de Yves Klein não me dizia absolutamente nada, era um azul tão significante quanto a cor do velho uniforme da escola que estudara, o que não me trazia belas lembranças. A genialidade parecia-me completamente relativa e eu no alto de minha prepotência encarava o óbvio como o não óbvio e assim do contrário. Como poderia haver uma sincronicidade tão simpática, quando eu não queria nem olhá-lo nos olhos? Porém quando o fizera, levantamos nossas sobrancelhas simultaneamente arqueando-as como duas bocas comunicando-se sem querer.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Procuro, mas não enxergo o alvo e calo o meu silêncio para ver se o mundo ainda existe e insiste em ser o mesmo de sempre, eu me disfarço sempre e não me encontro, nem sei qual a pura dor de ser mais um rosto que mente.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Eram exatamente 07h10min antes do meio dia e eu estava ali em uma sala de cristianismo com secreção nasal ouvindo reclamações e tentando não rimar. O sono de 4 horas mal dormidas invadia meus olhos e eu cansava do estilo da minha escrita. Minha imagem estava cansada. Eu estava esgarçando. Pagina preta. Escrita branca. Fungadas. Falação. Areia nos olhos. Ola... Perco o raciocínio com os conhecidos. Abstraio. O vácuo no meu peito continua ali mesmo sorrindo.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Os Novos Desajustados:


“Não ligue pra estas caras tristes fingindo que a gente não existe. Sentadas, são tão engraçadas, donas das suas salas!”. Cazuza foi? Reencarnou. Em nossa camiseta rasgada, customizada, aplicada, plastificada, listrada, modernizada. I Love Fake! Amor de que? Amor do mundo, de quem ama de pé junto,... com Adidas desamarrado, All Star detonado, na meia dos novos desajustados. Adeus folk! Somos os inquietos, nova-iorquinos, londrinos, somos erikas e palominos! I Love Kate Moss. Mostre e Will! Transgressão sem mágoa, somos outsiders! Calça skinny, sandálias Havaianas, make no rosto, poser no encosto, somos verão!!! Somos doces, ácidos, lisérgicos, saudosistas do futuro, abusando do colírio e dos óculos escuros! Somos bala demais, massa demais, biexooo! Divorced, censored, do it yourself! Somos os sonhadores mal-passados, os novos desajustados.

Sem medo

Cada escolha infinitas renuncias. É cruel decidir. Caminho perigoso, libertador, sem volta. Lugar de encontros e despedidas com o novo. O novo perpetua-se. O novo descarta-se. É assim. Escolher. Mudar. Manter.

Sinônimos

  • Onde esta o óbvio que não aconteceu? Você me confundiu ao me chamar de seu? Foi ilusão minha? O culpado sou eu? Inventei as palavras? Quem as pronunciou fui eu? A verdade é uma só? Conhecemos-nos sem palavras e eu preenchi as lacunas em mim. Você foi você. A grande questão sou eu. O lado mais tolo. Procurar por você alhures não resolve. Enquanto isso vou por ai buscando uma continuidade para o que mal começou.
Para Olívia

Trabalhe por você, dance por você, cante por você, viva por você, faça absolutamente tudo por você. Dê credito à você e quanto aos outros cobre em cash. Se acredite. Entenda a sua complexidade e seja feliz, nem que seja por um milésimo de segundo, pois se você entender esse milésimo de segundo a sua vida já vai ter feito algum sentido.

Independência ou morte?

Não reclame. Eu aprendi seus artifícios. Agora, os executo ao meu modo. Do meu jeito. Nem melhor, nem pior. Não é essa a questão. Eu vago, mas não estou vago. Não confunda fones de ouvido com cotonetes. Cansei do seu imperativo em minhas ações. A convergência diverge e é exatamente isso que eu procuro. Independência ou indiferença.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

De - composiçao

Hoje eu acordei. Olhei para os lados e vi que tudo estava igual. Meu cachorro estava me esperando para ir à rua, meu telefone estava descarregado, fazendo um barulho que penetrava meus ouvidos como uma tesoura sem ponta e eu e eu estava ali -parado- como um gato de sofá olhando para o ventilador de teto empoeirado com a sensação de ter adormecido exatos 5 segundos. Sentia uma nostalgia presente, uma falta do que ainda iria sentir falta.

Eu havia decidido me libertar de você. Os nossos quatro anos já estavam se tornando cinco e eu não agüentava mais conviver com a sua ausente presença. Eu percebi que na verdade você nunca havia respondido a chamada, eu sempre havia respondido por você. Aí, na minha vida eu te reprovei por falta.

A gente não se via mais, e em um ano nos vimos o que? Três? Quatro vezes? Eu tinha certeza que tinha te eliminado da minha vida como uma urina, até que você reapareceu. Suspendeu meu habeas corpus e eu me vi preso de novo a você.

Enquanto isso, a única pessoa com quem eu dividia você era a minha outra personalidade de gemeos. Eu sempre fui dois, sempre a metade, dividido, nasci exatamente no meio ano: Dia, hora e minuto. Eu era dois, Eu “eram” dois. Nós éramos dois, eu e você, ou pelo menos o que eu criei de você para mim. E era esse você criado por mim que eu queria guardar dentro de um potinho de filme Kodak, para daqui a alguns anos ele estar mofado e nunca poder ser revelado.

Depois eu desisti, desisti de você, desisti de mim e desisti de tudo, e comecei a encarar tudo superficialmente e prometi para mim mesmo que só iria nadar na horizontal para não me afogar de novo. Me esvaziei completamente e me senti como uma samambaia de plástico e lembrei que o plástico demora duzentos anos para se decompor e então resolvi esperar.

SHIT BODY LOTION

Elogios bóiam na superfície. Por gentileza, não me julgue a partir de suas interpretações pessoais. Falas tanto de profundidade e, no entanto me bebes como um líquido quente, um café que queima a língua ansiosa. Espere. Para me compreender é preciso tempo, calma e principalmente confiança. O que você entende como liberdade é o meu limite. Por tanto se distancie caso não esteja disposto a mergulhar em meu miocárdio. Um sorriso pode significar o meu ódio em forma de adoração. Um sorriso pode significar o meu habeas corpus. Porém minha lágrima carrega a consistência de um diamante. A dor metafísica personifica-se na retina e se quebra como um espelho condenando-me aos meus próprios olhos.

Com Forma

  • Finalmente a conformidade parece ter aterrissado em meu peito, a tranqüilidade paira pelo ar da noite de uma quarta feira curiosamente não-futebolística e a minha sensação ao ver sua foto pregada metalicamente em minha frente é de puro esvaziamento. Embora eu saiba que depois de uma bela noite de sono eu estarei repleto de esperanças e fantasiando toda uma realidade que infelizmente não existe, eu procuro aproveitar esse momento, me enganando, fingindo e tentando me entender.