terça-feira, 27 de setembro de 2011

Quando foi mesmo a última vez?

Porque os dias em que mais apetece ir à piscina são aqueles em que o frio enaltece nossas almas cinzentas e sem luz? Errar é humano, repetir é burrice e persistir durante sete períodos é divino ou diabólico? A característica perecível de nossos corpos nos mostra o quanto a vida é frágil, sobretudo quando os rótulos se expõem de cabeça para baixo. Experiências perturbadoras deixam clara a nossa vulnerabilidade perante o outro. Este que é capaz de nos expor a extremos sentimentos refletidos de nós mesmos. É quando aquela respiração ofegante reverbera por três dias e não te deixa esquecer o que foi dito. É quando o seu ídolo se humaniza e você se vê diante do nada que nos sentimos sem sonhos, sem realidade. Fatos simples explicam. Complexidade confunde ainda mais. O óbvio foge para um campo opaco. A barra da minha calça é a única coisa que faz parte da sua vida. Metáforas ultrapassavam a definição de diferentes domínios e chegavam a diferentes planetas. Posso te amar para sempre ou por três minutos. Não importa. A intensidade é a mesma. Queria ter chorado quando vi a loucura que você fez. Não o fiz. Vi, engoli e agora seguro o vômito.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Oxímoro retórico

Você me persegue. Não perco o sono. Sonho com você. Acordado, todos os lugares me lembram você em algum aspecto pequeno que seja. Atribuo termos incompatíveis a você e tudo se mostra imperfeito na perfeição dos encontros. Não conheço um só momento de tranqüilidade e não é preciso passar pelo Humaitá para incompreender o mundo. Essa tendência neorromântica que nos envolve deixa-nos vulneráveis e suscetíveis a qualquer tautologia perdida no meio fio. Termos lingüísticos substituem a minha língua que jamais tocou a sua e essa ausência não se completa na definição epistemológica da palavra amor. Qualquer notícia sua me exaspera e muda todo o meu dia que não estava tranqüilo o bastante para receber tamanha dose de nostalgia. Respiro ofegante em uma sessão de yoga. Taquicardia e uma pitada de tic nervoso adoçam o meu dia. Sete minutos para fechar uma torneira não me aproximam de você. Dois minutos para apertar o botão do elevador não me deixam mais tempo vivo. Mesmo assim corrijo a postura, sorrio para os espelhos e me beijo em busca de referências bibliográficas corporais suas.

sábado, 17 de setembro de 2011

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Minha criação artística estava em prova. Não estava rendendo nem mais uma frase que valesse a pena. Simplesmente não estava vivendo um amor intenso o bastante para me proporcionar um sentimento necessário para dar alma a minha produção. Esse sentido inteligível da obra de arte, esse sentido que não se explica nem se entende. Sente-se. A minha vontade era sair por aí procurando alguém para amar e extrair como um parasita toda a dor e todo o amor que se pode sugar de alguém. Eu compraria um produto que provocasse tais sensações. Melancolia em conserva que se passa no corpo como um gel terapêutico às avessas. Era simplesmente uma vontade desesperada de sentir ou de se permitir sentir. Egoísta, narcísica, pedante e apaixonada. Não estava muito ligado a julgamentos morais e a humildade não possui o mesmo significado na vida e no dicionário. Desculpe-me.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pusilânime

Um ano. Um hiato muito grande na vida de duas pessoas. Um ano sem se ver. Um ano sem se olhar. Um ano sem se tocar. Um ano. Viver momentos inesquecíveis e esquecer. A vida cotidiana apaga memórias inenarráveis, casos espetaculares de cumplicidade afetiva. A maldita rotina. Esta que corrói as relações e impede que duas pessoas lapidem os mais puros sentimentos. Olho para trás e não enxergo onde perdi esse fio que nos ligava. Sei somente que o perdi e a memória é o único artifício que nos faz lembrar de nós. Esse imperativo do destino me deixa exasperado. Retroceder é impossível e eu sigo desse jeito nostálgico com vontade de agarrar o passado e recomeçar. Manutenção é uma palavra técnica que resume tudo. Como é necessária a manutenção da amizade, senão enferruja, quebram-se as peças e a torna obsoleta. Só amor não basta. O fato é que deixei um ano passar e não consigo entender onde estava e o que fiz. Um coma induzido, um estado corpóreo de anulação. Andava e não via aonde chegava. Olhava e não enxergava aonde pisava. Uma vida em um quarto escuro chamado mundo.

sábado, 10 de setembro de 2011

Carece de fontes.

Queria chorar agora. Vontade não basta. Não consigo sentir. A base dos sentimentos está destruída. É como saber a teoria e não possuir prática. Tenho medo de magoar através dessa momentânea falta de sensibilidade. Paro e penso em mim. Só em mim. Olho para o outro enxergando a mim mesmo. Não como identificação, mas como alguém que se vê no reflexo do olho do outro. Não me culpo por puro prazer estético. Não culpo nada. Só adquiro uma consciência doída demais para poder senti-la e remasterizá-la. Sinto-me pior e melhor do que os outros. Um fato é muito mais do que aquelas palavras demagogas que uma vez me disse. Discursos não mudam o mundo de ninguém e também não quero que isso seja diferente. Não existe dor pior do que a da exclusão. Devo isso por ser filho de um quase aborto.