sábado, 31 de março de 2012

Chocolate Amargo: Paradoxo.

A tristeza é a única coisa capaz de me confortar nesse momento. O descaso de um amigo faz-me sentir tão bem, quanto um beijo deveria proporcionar. Deboches e risos desconfiados me remetem a uma zona de auto-vitimização, a mesma condenada por mim certa vez. - Nunca pensei ser possível sentir falta de algo que nunca obtive -. Hoje percebo essa antiga teoria como um puro reflexo da minha falta de lógica tijucana e fico ciente de toda a ingratidão que isso possa agora ou um dia compreender. O desgaste nas relações antigas nos faz pensar na coragem que é romper algo que já está consolidado em nossa zona de conforto. Quanta coragem quebrar o paradigma da amiga de infância que sabe tudo sobre você, supostamente. Pedir o divórcio, sair de si, entrar de novo modificado. Um ciclo que se fecha. Outro que se abre. Vida. Arte da escolha. Coragem na escolha. Amar a si. Antes.

sábado, 24 de março de 2012

Fui sendo para você

Certa vez me preocupei com o modo com o qual falava, com a entonação de cada fala, o brilho dos olhos, dos sapatos, dos dentes, mas não importava, ela gostava de mim. Assim. Esforçava-me na barba e no bigode, mas não importava, era desse meu “mau” jeito de que ela gostava. Assim. Sofria influências de filmes, músicas e livros só para agradá-la, mas ela nem atenção prestava, minha essência dizia muito mais para ela. Nem imaginava. Penteava o cabelo e algumas vezes até pasta sobre eles colocava, mas é dele selvagem ao acordar de que ela gostava. Natural. Comprei roupas caras e me esforcei na combinação, mas é de tirá-las do que ela gostava. Amei com cuidado, media cada gesto buscando não magoá-la, mas dos meus defeitos ela também gostava.

Não importa o que faça, não importa o quão lindo o feio estás, não importa o quanto de dinheiro tens debaixo do colchão, não importa. Quando ela gosta de você, é desse jeito, simples assim, como você é, do jeito seu, subjetivo e imutável. Sem manuais de instruções ou regras pré-estabelecidas. Gostar ultrapassa vontade, entendimento ou causa.

terça-feira, 20 de março de 2012

A dor que percorre

Adoro o silêncio imaturo, coisa de quem ainda não aprendeu a amar. Um lar destruído pelo próprio dono. Um altruísmo enraizado no próprio ego. Pensar no outro visando seu próprio bem-estar. Fuga da culpa. Isso já é explicar demais. Nome e sobrenome aos bois. A entonação não dou. Parte da interpretação pessoal de cada um. Fujo da tautologia e sem querer pleonasmo, como verbo pleonasmar. Possível nome goiano. A técnica sempre rouba o meu sentimento. Então, prefiro errar tendo nexo em mim, do que agradar à reis e rainhas temendo a rima. A quem interessar possa é dessa forma que esvazio os dutos de meu corpo. Entenda 'dutos' como lhe convir melhor.

quarta-feira, 7 de março de 2012

1 X 1 - Eu sou você

Caminho árduo é chegarmos a um consenso de identidade familiar quando a própria vida nos faz seguir caminhos diferentes, enquanto nas veias caminham sangues análogos. Ver o outro e nos reconhecer mesmo vendo-o alheio ao seu mundo, à sua vida, à sua realidade. Como tentar uma reaproximação espontânea sem ferir os umbigos? Como diminuir a geografia entre as escolhas de cada um? A tia bacana do 'sutien' de couro, o qual achava a própria encarnação do movimento ‘new wave’, hoje é uma estranha num ninho longínquo jamais freqüentado. O primo ‘best friend forever’ da infância, hoje não passa de uma pessoa a qual você deve um mínimo grau de relação e pretende não encontrá-lo fora do âmbito familiar. A avó querida dos rijões e batatas coradas à moda do Minho aos domingos não entende um centímetro de quem és. Todos alçam vôos forçados umas três ou quatros vezes ao ano. Por uma culpa cristã. Existe um ódio mútuo gratuito não-declarado, mas sabido, alimentado apenas pela simples resistência em não gostar só porque é de livre e espontânea opressão. Talvez se assim não fosse amar-nos-íamos, nos escolher-nos-íamos, mas a obrigatoriedade em nosso gostar instaura uma barreira em nossos corpos, mentes e corações. ”Família é sempre boa no retrato pendurado na parede” dizia vovô parafraseando o seu próprio avô. Isto sempre disse muito sobre quem éramos, ou somos. Poucos são aqueles que percebem tal complexidade nesta relação engendrada pelo ódio amoroso, o conforto invejoso e a palmatória de pelúcia, com a justificativa da punição-salvadora. Eles a vêem como algo que existe por si só. Eles são felizes por ignorar. Eu sou inquieto por ser ignorado. Um a um e estamos aos quarenta e sete minutos do segundo tempo sem direito a acréscimos, pênalti ou prorrogação.