quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

quando escolhemos

Existe um momento indefinível na vida em que você escolhe. Essa constatação se dá apenas após os efeitos de uma escolha se concretizarem. E aí já foi. Você não gosta da sua voz, do seu jeito de andar, do seu discurso ultrapassado, do seu estilo, do seu cabelo, do seu estranho jeito de contar verdades. E aí já foi. Você escolheu ser tudo isso, um dia, uma vez, num passado real. Escolheu cada centímetro de quem você é. Naquele dia em que deixou para amanhã a corrida matinal, quando comeu demais no fim de semana, quando disse não e morreu de culpa, ou mesmo quando deixou a gasolina na reserva e rezou para conseguir chegar a casa. Você escolheu ser quem você é em cada segundo de sua vida, em cada fala, em cada suspiro. Agora mesmo, nesse minuto, está escolhendo. Essas pequenas escolhas formam você. Mas como conseguir mudar depois de toda essa construção milimétrica? Como deixar de ser quem sempre foi? Como não vacilar no inesperado? Como fazer com que estas pequenas escolhas se somatizem em mudança? Resultem num alguém que eu desejo ser. Num ‘eu’ novo e ao mesmo tempo real?

terça-feira, 27 de agosto de 2013

falência múltipla

de um jeito ou de outro nossas paixões diárias se perdem no famigerado mundo das ideias. no âmago de quem realmente somos. e a insatisfação se faz. não somente sobre os amores. este fenômeno, talvez geracional, atravessa nossos dias. desde de um apego pela empada caída ao chão, até pela moça bonita que atravessa a faixa de pedestres, enquanto se está parado no sinal vermelho. segundos de perdas que constroem utopias fúteis e efêmeras, capazes de durar três segundos. o problema é que tais perdas, ficam. presenças vazias que penetram nossos desejos. ansiamos por tudo. ansiamos pelo nada.

terça-feira, 30 de julho de 2013

for better days. for better ways

Por dias melhores. Por caminhos melhores. Por escolhas. Pelo ato da escolha. Por simplesmente saber. Por nós. Por quem somos. Pelo o que queremos. Pelo que não sabemos. Pelo que não precisamos saber. Por mim. Pelo fim das coisas. Por você. Pelo início delas. Por tudo isto e um pouco a mais. Por sempre estarmos e só.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

diagnóstico

sofremos, então, de -angústia crônica-. por mais que os problemas nossos de cada dia se dissolvam em solução, por mais que consigamos nos livrar de nossas dores a mais, existe sempre algo que fica. esta presença se justifica exatamente pela falta. a ausência de uma questão a ser percorrida, situação apocalíptica, nos deixa ainda mais suscetíveis a este estado crônico. simplesmente por não ter. e não tendo, procuramos, mesmo que involuntariamente, cada vez mais, ter. por isso, estamos tentando preencher vazios. falsos vazios. esta sensação partilhada por todos nós e tão individualmente sofrida, nos faz querer transbordar aquilo que nos parece árido, e no fim sobra. e a dor não se desfaz. . sobre as compulsões diárias

domingo, 14 de abril de 2013

you have a new message

com as calças abaixo da bunda andava vagarosamente em direção ao nada. fumava um chesterfield blue trazido dentro de uma meia em sua última volta da europa. a touca escondia o seu cabelo sujo. ele nem sabia quem era. só tinha a certeza das dúvidas em seu peito magro. reco-reco nas costelas. doze por cento de gordura em seu corpo. nuggets e coca-cola, um beijo. chegou ao bar da esquina, onde encontrou uma velha amiga. dezessete anos de amizade. vinte e poucos de vida. amor demais para aguentar. e não aguentaram. pararam ali. com a long neck de sol mexicana na metade. com o filtro do chesterfield blue intacto. o cigarro fumado pelo ar suspenso entre dois olhos sem vergonha. vestígios eternos de um amor que acaba. é tempo demais. ela amava rir das coisas insanas ditas por ele. ele adorava fazê-la rir. foi perfeito demais para se manter. beleza cansa. cansa. ai. como tudo que é demais. faz mal. para eles o mau era bom. dark side is the new black, mano. gangsters de si mesmos. não matavam nem barata. miravam em guns, black shirts and cool socks para fora das boots, tudo na forma. por dentro duas criaças que se amavam no jardim da infância. jardim secreto na sessão da tarde. hoje compartilharam passados. choraram presentes. e pontuaram finalmente o que estava reticente. deu certo por tanto tempo. talvez volte a dar. arrastaram cadeiras de ferro no humaitá. abraçaram-se. beijaram-se. ele desceu a jardim botânico. ela subiu a são clemente.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

a mais

Hoje eu acordei em preto e branco. Ouvi sete músicas e nada esvazia a melancolia que arrefece o meu peito. Trago-a como uma velha guimba largada num antigo cinzeiro de pedra de uma casa de praia.
Eu não combino com aqui. Cidade grande e praiana maquiada pela óbvia e equivocada associação entre o sol e felicidade. Eu não consigo imaginar dia mais angustiante do que aquele em que o sol frita nossos corpos enquanto o povo o brinda mediocre e felizmente.
Não tenho conseguido mais fugir. Já esgotaram-se os meios e o derradeiro desfecho se anuncia. Encarar a mim mesmo. Nú. Repetitivo. Como eu sei que sou e só sei. Eu sei.
Respiro raso, ponho aquela british indie rock band e finjo que ainda há uma porta a ser aberta. Fecho os olhos num último apelo a mim mesmo. Em vão.

Assumirei os erros a mais. Prometo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

verso

2013. O mundo não acabou. Eu só tive vontade de voltar à mim mesmo agora. Nesse -meio tempo-, quase inteiro, perdi amigos, amores. Não ganhei nada. É assim que me sinto, lesado. Página da vida escrita no verso. Contracapa. Papel de pão. Poético e descartável. Escondido onde nem eu mesmo me achei. Quando menos apareci, foi quando mais me expus e errei. Perdi o tempo que foi meu. Gasto.
Agora choro o leite derramado que escorre pelo ralo, mistura de início e fim.