quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Re(fé)m

Todo mundo tem um vício ligado a alguma conotação carnal. A criança na chupeta, o adulto no cigarro, ou no copo de bebida, alguns pelo sexo do outro, oposto, dos anjos, vício em chiclete, em bala ou pirulito. Cantar, morder ou assoviar. Enfim todos estes vícios de alguma forma envolvem a questão oral, da boca, do movimento físico que a mesma promove. Durante minha auto-observação constante e diária percebi o vicio maior que possuo: Amores impossíveis, o qual de certa forma está ligado a esta questão oral, mesmo que pela sua ausência. Sou viciado na falta de oralidade no outro, na falta de toque, de olhos, de afagos. Sou viciado na indiferença e na ignorância, em seu sentido primordial. Além é claro de todos os outros vícios anteriormente citados. Um reflexo da procura de um preenchimento para esta ausência que me completa e me mantém aqui. Beber, fumar e se arrepender, uma espécie de cup noodles, a morte lenta da geração 90’. A famosa automutilação cristã que não larga o individuo catequizado antes dos quinze. Pirando o cabeção por aí como se não houvesse o amanhã e perdendo a razão quando o tal amanhã finalmente chega mostrando que a poesia é linda no papel. Legitimando a dor psíquica como detentora da zona de conforto dos poetas roubados.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Certezas de um Janeiro incerto.

Difícil controlar a mente recebendo a sua visita nos sonhos, nos cantos e nos recados de meu pai. Você deu tchau e não foi embora. Aquela visita que se despede cento e trinta e sete vezes e não finda o contato visual. Como aqueles alunos de teatro tablado intensos no jogral, você não foi embora e eu fiquei. Aqui sem ter inteiro, tendo e nem tanto. Olho em volta e vejo o seu desejo, do qual não compartilho. Desgrudamos-nos como massa de modelar velha, gasta e suja de dedos escolares. Idéias mortas, coitos mal começados, gozo interrompido, uretra dolorida, dutos lacrimais em fluxo livre. Reflexos de uma vida que não houve. Vida desperdiçada. Vida repetida no erro de nosso medo de viver, de deixar ir, fluir. Amor de rima pobre, poesia ingênua, quase ruim, quase bela.