domingo, 9 de dezembro de 2012

tudo por mim mesmo

Não gosto das vozes claras, limpas, articuladas… Gosto de vozes roucas, arranhadas, engasgadas, com algo entalado, querendo ser dito, querendo dizer, cantar... Câncer na garganta que narra a trajetória de um rancor, de um amor talvez, de alguém que não pôde. Beleza bonita na dor. Dor que se liquefaz, muda de estado. Sai do emocional e encarna em nós na dor física. Mas sem esta dor não faz sentido. Perde o charme, a graça. Viver sem dor não tem sentido, por quê. Masoquismo social, lutando por migalhas de afeto diário. Um sorriso, um abraço falso, um beijo babado e a carga de energia que se enche novamente por 3 segundos e logo tudo se reinicia.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

felicidade na estante

Na mesma onda dos antidepressivos, hoje é proibido ser infeliz. Lutos só duram sete dias, meia hora a mais é patologia declarada, prozac na garganta. Não comparecer ao bar da esquina, onde seus amigos brindam a felicidade medíocre de suas vidas, em ter conseguido sobreviver mais um dia, engolindo a mesma cerveja morna após cada expediente de sexta-feira. Enquanto você simplesmente opta por seguir outro rumo, outro caminho, nesse mundo alérgico que nos brinda com um fim próximo, se Deus quiser. Não posso faltar com as expectativas da chamada “ditadura da felicidade”, a mesma que esfrega em nossas caras a irrealidade em sermos menos “eu” e mais “nós”, no sentido coletivo de -monte de merda-. “Só não é feliz quem não quer”, e seu não quiser? Ou puder? Estarei condenado ao fracasso enquanto ser humano... Desculpe-me, creio que não, mas na sociedade em que os equívocos vêm em manuais, sinto-me inadequado por simplesmente divergir do que teimam em gritar, com perdigotos, em minha cara.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Dízima periódica da geração Y

Eu queria entender o porquê dessa não identificação com o nada ou com o tudo de que a geração Y compartilha e que muitos nem se dão conta. Essa angústia por saber e não saber quem é/foi. A busca por um sentido que não passa pelas drogas, arte, sexo... Tem a ver com o humano de nós. Quem somos aqui. É construção, é genético, é inconsciente, psicossomático? Acho que tem a ver com -quem culpar- , porque num mundo tão maluco, moderno e rápido é preciso condenar alguém. Mesmo sabendo que a culpa está dentro de nós. Um eterno cristo pregado em nossas almas, mesmo sendo ateu. É social, geracional. Vítimas pós-utópicas, sem ideologia, aliás, com uma única ideologia, a individual, de si mesmo. Profissionais de suas próprias mentes e corpos. Uma busca eterna por um “eu” completamente dissociado de “mim”. A conseqüência está nas ruas, na segregação do ser homem, de ser único, só e nada. Porque afinal de contas vivemos em função do outro, por mais que se negue, que se fuja, é real. Somo uma produção em série de unidades diferentes, mas que ainda pertencem a um único universo. Culpar os pais é ciclo vicioso sem fim. Enquanto isso, vivemos, tentando buscar uma resposta infinita. Dízima periódica da geração Y.

sábado, 13 de outubro de 2012

no filter

O meu dia começa quando ponho os meus pés no chão e termina quando a última gota de álcool evapora de minha pele áspera, corroída pelas noites a mais do meu jeito perverso de ser. Reflexo dos filtros que amenizam a feiura da gente. Da geração coca zero quanto mais zero melhor. Zero mesmo, no sentido literal. Vazio no jeito animal de ser racional comprando melancia geneticamente modificada. Sem sentido por querer como eu você a mercê de rimas pobres, porque o zero é cool entre todos nós. A vida é bela com o filtro certo. Num espeto à venda escuto os gritos de quem eu não quero ser. Ninguém é ninguém. Somos parte do todo, dos filtros pré-moldados que moldaram por nós. Somos vitange de nós mesmos, do que fomos uma ou duas semanas atrás. Falta de escolha ou escolha por falta. Tanto faz. No fim ou é mais alaranjado ou é mais azulado, não importa. Na escala das cores primárias, o limite é a mistura óbvia de qualquer coisa bonita aos olhos do outro sobre nós.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

perecível

Guardo angústias pra mais tarde, como bolinhos de arroz. Melhores dormidos, de um dia pro outro, amolecidos pelo tempo. Uma sensação de noite passada, de perdão para alguém. Futuro sem nexo do jeito certo.Como o dia em que deixei aquele lugar como sempre e como nunca não me olhei ao espelho do elevador. Como é difícil ser na despedida. Último olhar, última fala, um último toque. Adio todos os sentimentos, prolongo sofrimentos e com isso não consigo nada, apenas sou, pois penso, como dizem. E depois? Consigo. Mas continuo com as angústias nos bolsos, manchando o tecido, sugadas pela pele. Câncer certo na mente hipocondríaca. Um, dois, três comprimidos e foi-se a dor. Alívio comprado, felicidade em caixa, mas como todo produto do capitalismo, finda, vence a validade, perece como eu, como você, como nós juntos em meio a toda essa vida.

sábado, 8 de setembro de 2012

unidentifiable

Críticas estou dispensando. Já basta a minha auto. A não ser que você seja o mestre dos magos e diga que tudo dará certo neste caminho opaco que sigo evitando olhar pra trás. Tô no escuro com medo. Vejo pessoas e prioridades. Vejo equívocos em manuais. Percebo-me na luz. Capacidade sobre humana de fazer-se desinteressante. Não espero nada. Só peço. Eu me amo em 3 de agosto. O mundo pára em seu constante retrocesso andante. Nós continuamos contracorrente tentando chocar a borracha, blasé. Encaixando na timeline como dadaístas do futuro, geração qualquer nota, cópia vintage da tendência neomoderna da semana de 22. Porém somente a forma nos interessa, mesmo com conteúdo, a iconodulia sobressai na presente imagem de nossas camisetas manchadas por rostos conhecidos de um paradigma geracional. Reflexo constante da falta de.

sábado, 11 de agosto de 2012

eles tentaram

Sete dias in rehab não cabem dentro da razão. Psicossomatização. Quando é mesmo que nos damos conta? A vida pode ser lida como um terço. Costura. Conta por conta. Nó por nó. Dor transmutada em bagagem. Como Dean ou Monroe. Abandonados, mas artistas. Pintores de si mesmo. O corpo como tela do vício em sermos nós mesmos. Farpados. Olhando para si em sete dias. A dor desvia o foco. Não olho nem ao lado. Calado a interiorização foi intensa e sem vontade de se fazer entender, escrevi sem caligrafia, falei com os olhos.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

time is my addiction

Foi no dia vinte e nove, dia de gnocchi, que eu deixei a sua casa e fui andando até botafogo. Pensando, avaliando, questionando este novo sentimento. Algo diferente das outras vezes em que deixei a sua casa e de súbito faltou-me o ar pelas lembranças de cada gesto seu. Hoje é diferente. É um vazio cheio da ausência de sua presença. Trato-te mal num reflexo do meu ódio em não conseguir te odiar. Vejo-te uníssono como o grito da criança que um dia fomos. Juntos. Seu peito, joelho e cabelo já não são os mesmos, mas seus olhos refletem aqueles dias quentes do verão praiano, em que eu inocente transloucava-me só para te ver dropar as ondas no oceano sem fim, o que acabava por ser a minha obsessão. O meu desejo se transmutou. Acabou o tesão, a admiração, o toque suave. Restou o amor que único se torna pequeno perto de minha perspectiva de vida. Amor amigo. Amor de quem quer bem, mas só. Finda no limite da certeza. E convicção em matéria de amor é pura amizade. Agora, neste instante, neste milésimo de segundo que rompe o espaço, não sinto nada mais do que carinho. Carinho como pela blusa preferida aos treze e que não cabe mais, mas que guardo como a recordação de um ano feliz em minha vida. Nós dois grafados na tela da memória. Uma mistura de surf, eu, prata, você e amor em tons de preto e branco.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sinal não encontrado.

Amo com tanta intensidade que machuco o seu dedinho mindinho. Amo com a força de quem resiste, e isto finda a minha vivência modesta que anseia apenas por um beijo teu. Te quero como nunca e temo como sempre, perder-te. Por favor, lave a louça e me beije com a sinceridade que existe em seu peito. A nossa ligação é resgate de Romeo e nossos gestos, uma interpretação britânica de Juliette. Porque os ratos se escondem na taberna? Nossa história se tornou um Fado triste de sucesso. O amor morou em nossos corações, mas juntos somos apenas palavras de uma carta nunca enviada. Choro em repúdio à nossa covardia. De amanhã não passa.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Carta de quem não serei.

Oi Tia

Jamais pensei em voltar aqui ao Catumbi, sobretudo nestas atuais circunstâncias. Ainda mais após a “ascensão” social de nossa família. Primeiro à tijuca, depois à barra da tijuca e por último à Gávea, quanta evolução num só clã. Hoje retorno onde jamais pensei voltar, nem por passagem. Alias, pensei sim em retornar aqui, mas apenas morto, para habitar o ataúde ao lado de vovó no nosso famoso cemitério. O berço da nossa família é hoje a cova viva e morada deste teu querido sobrinho marginal. Estou preso neste cárcere há cerca de dois meses e não sei ao menos se daqui a cinco horas estarei vivo ou se esta carta sequer chegará a suas mãos. Aqui a alimentação é péssima, os alimentos já nos são oferecidos abertos, eu nem posso ver as informações nutricionais e continuar a nossa dieta diária. Mas continuo magro, talvez devido à rotina intensa de exercícios deste lugar, ou mesmo pela tristeza mesclada com o futuro incerto que se personificam num tumor incurável que ostento em meu estomago, o sinto como um bolo na garganta que mantém a minha “saciedade”. Nem lexotan, nem rivotril e nem a nossa amiga sibutramina seriam tão eficazes. Tive muitas alucinações aqui dentro, não sei dizer o que foi real e o que foi sonho, mas tanto faz. Tudo que me ocorre aqui dentro se torna real, é o único material que possuo, eu comigo mesmo. Conheci um pastor aqui dentro, e por incrível que pareça, ele é o único com quem consigo manter uma conversa num grau superior do intelecto, ele tenta me ungir todos os dias ao senhor Jesus, mal sabe ele o quanto já estou ungido. (risos) Enfim, escrevo-te, pois sei que mesmo que do seu jeito, fostes a que mais me compreendeu nesta vida. Desde as minhas crises de TOC ou as minhas respostas aos ataques de papai. E eles como estão? Já esqueceram que um dia tiveram um filho? Ainda fingem que aquele aborto em 91’ deu certo? Nem sei por que pergunto, esta carta jamais terá uma resposta, talvez pergunto a mim mesmo se ainda possuo genitores. Por mais árdua que esteja sendo esta nova vivência de minha vida, não paro de exercitar meu lado Polyana, além de minha famosa ironia. Todos os dias procuro ver o lado bom disto e ironicamente sorrio para todos, buscando vida no inferno.

Um beijo sem forças quase.

Ps. Te amo para sempre. Não se esqueça de mim. Nunca.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Quase por querer

É chegada a hora da volta. Voltar para o meu mundo da espera pelo soar do vibra call de meu smartphone. O mesmo que traz as notícias de minhas expectations é aquele que teima em não vibrar em my reality. Momentos como este me fazem ansiar pelo tempo em que Pero Vaz de Caminha endereçava esperanças através dos oceanos. Desse modo penso que seria mais sofrido esperar por você, porém menos doloroso, tendo em vista toda a ansiedade depositada neste leque de possibilidades com o qual a tecnologia da informação nos abana. Aproximando-nos de tudo e nos distanciando de nós mesmos. Estou realmente cansado de agradecer por all the joy and pain. Só peço por uma vida com mais realizações e menos “quases”. Morrer na praia já está ficando repetitivo e eu temo perder o fôlego em breve. Pior do que o medo da mudança era o medo de não mudar. Nunca. E neste ciclo com fins trágicos, você “anabolizava” o meu potencial. Não posso parar de tentar. Não posso perder os ganhos que as derrotas me deram. Não posso amar morrer sem ter.

Beijo sincero

domingo, 6 de maio de 2012

Sem flores, brincou.

A morte já não era mais tabu. Perdi você na pior das circunstâncias. Perdi você em vida. Viva, ali em minha frente. Apesar de a morte ser de fato uma experiência traumática, esta ultrapassava todas as expectativas, até aquelas mais receosas, como as do filho ciente da mortalidade dos pais e que mesmo assim evita o assunto como o diabo a cruz. Perdê-la em vida era o pior que poderia ser vivido. A morte leva a materialidade e nos deixa com as lembranças, os sentimentos, marcas invisíveis que nos penetram mais do que ferida aberta. Você foi-se, mas só para mim, morreu de fato, mas ainda poderia um dia eu sem querer querendo atravessar a Bartolomeu Mitre e ver-te. Viver com a expectativa da chegada de alguém que nunca veio e já morreu. Abortei-te. Morreu no dia em que não foi ao meu encontro na livraria da travessa. Morreu no dia em que jurou amar e amou só para si, não compartilhou comigo o teu sentimento que era mais meu do que teu. Morreu no dia em que me agarrou e de súbito largou-me, lembrando-se dos conceitos da aula de ética moral na contemporaneidade segundo o evangelho de Mateus. Morreu de vez quando por uma súbita vontade momentânea escreveu-me feliz, requisitando a minha presença novamente em sua vida. Vesti então a minha capa das expectativas adolescentes, aquela mais gasta e antiga, a mesma que teimo em não doar. Fui até e cheguei. Esperei. E você fincou o teu ataúde em mim, bateu com a pá na terra fofa, apoiou o epitáfio, rabiscou palavras ilegíveis e por fim aplaudiu a si mesma. Palmas secas de um homem só, o homem que mais amor deu-te em morte. Sem flores, brincou.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Oh Susanna

Confesso que jamais esquecerei o dia em que entrei na casa de número 176 da Avenida Vieira Souto, cruzei o saguão e avancei as escadas. Deparei-me com uma mulher de cabelos negros e olhos azuis, olhos bem marcantes. – Susanna? Eu disse.


- Sim? , disse-me ela. Olá, eu sou o Pedro amigo da Clarissa que você chama de Alessandra. - Espertinho você, né? Exclamou! Sorri e ela retribuiu generosamente. Não seria capaz de prever, mas a partir daquele dia a minha vida nunca mais seria a mesma.


Quantas experiências incríveis vividas tendo como cúmplice essas arcadas? Quantas as amizades feitas! Quantas emoções! Quanta alegria conviver com seres humanos que assim como eu buscaram vorazmente a real capacidade do nosso corpo, nosso principal instrumento de trabalho! Quanta angústia carreguei no trajeto até o meu refugio no recreio dos bandeirantes, somente os bancos acolchoados do onze trinta e três sabem o tamanho das frustrações que tive e o quanto cresci através delas. Como sou grato por ter aprendido a ser autentico como estou sendo agora e não carregar a menor culpa por isso! Como sou grato pelas palavras sempre eufemísticas, porém carregadas da mais pura verdade de minha querida mestra. Foram experiências que não trocaria por nada nesse mundo. Experiências em uma sala de aproximadamente 20 m² que ultrapassaram a quarta, quinta, sexta, sétima parede, sétima sim, porque sete é auspicioso, não é Susanna? Aprendi a ser tantas coisas ao mesmo tempo, porém uma de cada vez. Aprendi a rir na hora certa. Aprendi a ser levado a sério, mesmo quando se tem 17, 18 ou 19 anos. Aprendi a ser feliz. Estou aprendendo a cada dia. Agora já está feito, você é uma referência, como um livro na estante que sempre consultamos nos momentos de dúvida. Aquele livro todo escrito, anotado, querido e amado que nós não emprestamos para ninguém.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Um brinde ao fracasso

Viva a dor. Aproveite cada seqüela da mesma, pois só assim você terá feito algo de bom, mesmo no erro. Olhe para si com os seus olhos da infância e veja de verdade quem é você, sem amarras. Jogue-se no novo, deixe o vazio preencher-se com o que há em nossa volta. Às vezes o conhecimento nos amarra. Na guerra, por exemplo, a ignorância do soldado raso o coloca na situação limite, na mesma que o coronel, mas por qual razão, este ignorante soldado vive, prossegue na guerra, e o experiente coronel não? Ele tem a confiança daquele que não sabe ao certo onde pode ir, não sabe os limites do próprio corpo e de todas as possibilidades externas, ao contrario do coronel. Essa inconseqüência faz com que o soldado deixe este mesmo vazio se preencher, deixa a pureza das ações acontecerem sem nenhuma significação anterior. A inconseqüência do herói grego é a alma do negócio. Porém deixar de aprender é suicídio, crime inafiançável. Contar com a sorte não é nada inteligente. A solução está no eterno reencontro consigo mesmo. Não esqueça quem és. Não perca o centro de sua personalidade. Viva. Deixe a dor percorrer com a mesma intensidade da felicidade e somente desta forma conseguiremos chegar. Aonde?  

Ferida Aberta

Vez ou outra ainda pensava naquele dia triste e quente de outono. A mesma sensação voltava em mim, ódio na perda, no erro de não resgatar a essência e me deixar levar por intelectualidades que censuravam o meu verdadeiro eu. Como pude esquecer-me de onde vim? Perdi em mim o menino doce que um dia fui, aquele o qual várias vezes realmente tentei fugir, cedendo ao desejo da mudança. Consegui. Construindo-me a partir do olhar alheio. Teoria da verdade. Quem fui não sou mais. -And now- Agora, quando eu havia atingido o mérito percorrido por todo esse tempo, pecava no mesmo lugar só que na contra mão. Fugi de mim durante o tempo e agora o que deveria era me reencontrar. Yin-yang. Não era ir nem vir. Era encontrar um meio termo entre o que fui um dia e hoje sou. Perdi-me entre o identificável e a personagem de mim mesmo. O couro tratado modifica-se e cede à mudança. Vou ficar, aportado, aqui a espera de acomodações. Só assim encontro. O quê?

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Depois daqueles dois dias

Aquele menino, hoje é homem com choro preso, querendo gritar, querendo amar. O vosso apartamento conjugado não permite tamanha demonstração de sentimentalidade. Ele não acredita mais nos seus próprios sonhos, nem mesmo em seu próprio amor próprio. Vida amarga aos olhos daquele que sente a agulha. Cada qual sabe a grossura de sua veia. Mais uma vez perdeu. Mais uma vez não conseguiu suplantar suas próprias vontades em relação a ele mesmo. Deve ser esse o sentimento da mãe abortada, pensou o rapaz. Ir, seguir, prosseguir e nunca chegar. Ameaças nunca findadas, atrapalhadas pelo o único inimigo conquistado por ele em vida: O próprio. Não queria ir embora com aquele choro dentro de si, aquela dor que vira câncer não poderia ali estar condensada em sua voz, pulmões e pulsos. Não restava mais nada a não ser o pedido de conseguir continuar sem perder as forças, sem desistir, sem desacreditar-se.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Deixe o ódio entrar fora

Eu me doei tanto que me arrependo da vulnerabilidade ocasionada por esta ação. Morro a cada palavra trocada entre estes que consomem a minha existência focada no amor. Tudo bem, respira, relaxa, estou exagerando. Não morro um centímetro. A ficha cai quando me vejo melhor, num lugar superior. Vivo. Sou Pedro, Just Pedro. Estes que tentam me matar, mesmo sem consciência disso, não podem nem se quisessem de fato. Sou forte, sou da zona norte, não me condene. A questão está simplesmente engendrada numa relação de posse. Roubaram meu brinquedo de amar e me vejo perdido sem ter onde focar a minha produção. Porém esta minha inteligência emocional não absolve o ladrão, é mérito meu! Anos de auto-análise, obrigado Sandra. Desejo ainda cuspir em seu ataúde. Ladrão de vidas, ladrão de almas. Se naquele dia quente que findava o verão não tivesse eu o ignorado em frente à barraca de açaí... O que vai, volta e hoje pago o meu pecado, amar errado, mas me arrependo de ter agido contra mim e a seu favor, tentando assim confortá-lo por simplesmente não ter dado sorte nesta encarnação. Por gentileza, não dê as caras por aqui, deformá-la-ei caso ocorra.

domingo, 15 de abril de 2012

La Usurpadora ou Te Vomitei

Sabe aquela sombra que te persegue onde quer que vá? Sabe aquele peso sentido nas costas quando o mal se aproxima? Pois é. Demorei meses para perceber toda a carga negativa vinda do interior. A energia veio aos poucos querendo engendrar-se como um elemento da infância, mas como tudo que tenta, mesmo que à força, uma legitimação da vida, mais cedo ou mais tarde se revela falso, barato e obscuro. Ela surgiu como um filho bastardo clamando pela acolhida, chorando pelos cantos o descaso sofrido, vitimizando-se por simplesmente ser. Aos poucos e com certa insistência inconveniente acomodou-se mesmo sem ninguém querer, um penetra, que chega à festa e faz de tudo para ser bem quisto e os convidados tomados por um sentimento de vergonha alheia acabam fazendo toda a cerimônia, rindo para não chorar. – Fique querida, você não é uma dos nossos, mas quem sabe possa vir a ser um dia?

Com o tempo tudo no corpo já a identificava como parte dele, uma parasita que uma vez engendrada em nossos corpos, o habita e se apropria mesmo sem ninguém querer. Uma lombriga, habitante da parte mais insalubre do corpo, um ser que se contenta com o resto, com o pior do que temos para oferecer. Mendiga que mesmo estando ali, todos os dias na rua a qual transitamos, passa a ser parte da nossa calçada, de modo que já não nos incomodamos mais. Simplesmente existe e damos atenção por uma prosaica relação forçada.

O fato é que ela fitava-me com freqüência e aos poucos esta, que nomino como energia, convenceu-me. Conseguiu lavar meu cérebro. Conseguiu se achegar. Sou presa fácil com pouca resistência. Por que não dar uma chance ao novo? Por que não abrir-se para o vazio e deixar que o mesmo se preencha com algo que venha mesmo de um lugar que a priori seja ilegítimo. Quem sabe com a minha imensa generosidade ela possa se enquadrar? Engano meu, máximo engano meu. Ela pede a mão, dou-te o braço e mesmo assim a danada sente-se out, filha ingrata, amaldiçoada pela mãe generosa. Desde já.

Chegamos a um ponto. Ela já não se sacia mais com o que dou. Tomou-me de tal maneira que de certo modo duvidei de minha própria personalidade. Será que estava pensando mesmo a partir de minha própria genialidade? Ou simplesmente ela estaria corrompendo-me aos poucos? Não se satisfazia mais em simplesmente me seguir, não queria mais stalkear, queria ser, queria me ser. Fodeu. Queria tudo em mim, do luxo ao podre, queria ser as minhas entranhas, queria ter o meu batimento cardíaco, queria mesmo defecar as minhas fezes. Não queria beber mais a minha urina, queria uriná-la em meu lugar. Queria o trapo o qual vestia nos dias frios, quando a vaidade errava a minha porta. O amor o qual dizia sentir ferozmente por mim era doença. Agora, ela ultrapassa a sensação mundana e emerge em meu espírito.

Quis tanto ser eu que, obviamente, não conseguiu. Virou uma cópia barata. Uma k7 com defeito, repetindo em slow motion a minha ladainha na forma equivocada. E na forma, como ela deveria saber por me estudar tanto, era algo rasteiro, superficial, que não mergulha que não mede o profundo. A única solução para ela naquele momento era nascer de novo, porém eu jamais poderia prever o ataque que se sucedeu de forma tão baixa e amoral. A leguminosa tentou roubar meu coração, tentou usurpar a base do meu sentimento, queria sentir no cerne do meu existir o que sinto. Aproximando-se do ariano tentou ver o que via, tentou amar no meu lugar. Não queria mais a imagem e semelhança, queria ser, na raiz da questão, o que apenas um louco, insano poderia tentar. Tentar o indizível, o impossível.

Hoje peço: - Saia pela porta dos fundos.

sábado, 7 de abril de 2012

colo sem pai

O meu mal foi pensar que uma –conclusão- sempre seria benéfica. Não. Naquela noite de sábado eu percebi que o seu amor fraternal engendrava-se na obrigatoriedade em amar. Concluí. A falta de espontaneidade nas ações é tão plena quanto uma - plastic bag in the Wind-, voa sem direção, fugindo de sua verdadeira função. Tens tanta sorte e és tão ingrato. Asa à cobra. Não agüento o mesmo copo, o mesmo teto, o mesmo céu, este que cinza me faz lembrar os dias tristes, aqueles em que me afoguei sem que me salvasse. A poesia de que falo em minha vida não tem nada a ver com o materialismo taurino com o qual leva a sua em meio a esta superficialidade a qual o remete a um medo de se afogar nas próprias dores de pai, de filho e de marido. Afogo-me na tentativa de buscar um núcleo que me diga quem sou. Enquanto isso, eu sei mais de você do que você mesmo. Significa.

domingo, 1 de abril de 2012

de/para

Você jurou chorar frente ao meu ataúde. No entanto jazemos um ao outro e pelo que soube de papai, você está no ápice, feliz e não sente falta alguma minha. Algo que há tempos passados jamais poderíamos considerar são. Por mais que a vida dê voltas, o amor não. O meu não. Você parece ter amadurecido e se estabelecido atrás de um balcão, assalariado, bem assalariado, financiando o seu novo amor por aí. Eu não. Eu ainda vago por letras organizadas em frases que formam livros, atrás de respostas para essa dor, esta falta de algo que nunca tive, esta expectativa insana, duradora, por você que nunca veio e não virá. Que má é essa esperança, sobretudo, neste imediatismo contemporâneo, em que as TVs de plasma vêem antes do amor próprio. Em sua linguagem me sinto financiado também. Sinto você como um apartamento classe média, dois quartos, sala, cozinha e sem dependência, pago em 147 vezes, ainda estou pateticamente na parcela 17 gritando para o mundo minha casa própria. Que grande anedota é você. Jura que me esqueceu? Como pôde? Você mora dentro de mim!

Ai Ai...

Minha vida também ficou bem melhor sem você. Conheci as melhores pessoas para carregar para o resto de minha vida. Inteligentes, generosas, que me entendem, falam minha linguagem sabe? Incrível como mudei. Irremediável como você jamais entenderá um por cento da minha complexidade e isso já basta para fazer de você inadequada para mim. Ou seja, a partir do momento que desejo você diferente do que és, o encanto se quebra. Mudar o outro vai contra ser feliz. Logo, desisto de novo. De você.

Um beijo sincero, porém sem carga.

Pedro.

sábado, 31 de março de 2012

Chocolate Amargo: Paradoxo.

A tristeza é a única coisa capaz de me confortar nesse momento. O descaso de um amigo faz-me sentir tão bem, quanto um beijo deveria proporcionar. Deboches e risos desconfiados me remetem a uma zona de auto-vitimização, a mesma condenada por mim certa vez. - Nunca pensei ser possível sentir falta de algo que nunca obtive -. Hoje percebo essa antiga teoria como um puro reflexo da minha falta de lógica tijucana e fico ciente de toda a ingratidão que isso possa agora ou um dia compreender. O desgaste nas relações antigas nos faz pensar na coragem que é romper algo que já está consolidado em nossa zona de conforto. Quanta coragem quebrar o paradigma da amiga de infância que sabe tudo sobre você, supostamente. Pedir o divórcio, sair de si, entrar de novo modificado. Um ciclo que se fecha. Outro que se abre. Vida. Arte da escolha. Coragem na escolha. Amar a si. Antes.

sábado, 24 de março de 2012

Fui sendo para você

Certa vez me preocupei com o modo com o qual falava, com a entonação de cada fala, o brilho dos olhos, dos sapatos, dos dentes, mas não importava, ela gostava de mim. Assim. Esforçava-me na barba e no bigode, mas não importava, era desse meu “mau” jeito de que ela gostava. Assim. Sofria influências de filmes, músicas e livros só para agradá-la, mas ela nem atenção prestava, minha essência dizia muito mais para ela. Nem imaginava. Penteava o cabelo e algumas vezes até pasta sobre eles colocava, mas é dele selvagem ao acordar de que ela gostava. Natural. Comprei roupas caras e me esforcei na combinação, mas é de tirá-las do que ela gostava. Amei com cuidado, media cada gesto buscando não magoá-la, mas dos meus defeitos ela também gostava.

Não importa o que faça, não importa o quão lindo o feio estás, não importa o quanto de dinheiro tens debaixo do colchão, não importa. Quando ela gosta de você, é desse jeito, simples assim, como você é, do jeito seu, subjetivo e imutável. Sem manuais de instruções ou regras pré-estabelecidas. Gostar ultrapassa vontade, entendimento ou causa.

terça-feira, 20 de março de 2012

A dor que percorre

Adoro o silêncio imaturo, coisa de quem ainda não aprendeu a amar. Um lar destruído pelo próprio dono. Um altruísmo enraizado no próprio ego. Pensar no outro visando seu próprio bem-estar. Fuga da culpa. Isso já é explicar demais. Nome e sobrenome aos bois. A entonação não dou. Parte da interpretação pessoal de cada um. Fujo da tautologia e sem querer pleonasmo, como verbo pleonasmar. Possível nome goiano. A técnica sempre rouba o meu sentimento. Então, prefiro errar tendo nexo em mim, do que agradar à reis e rainhas temendo a rima. A quem interessar possa é dessa forma que esvazio os dutos de meu corpo. Entenda 'dutos' como lhe convir melhor.

quarta-feira, 7 de março de 2012

1 X 1 - Eu sou você

Caminho árduo é chegarmos a um consenso de identidade familiar quando a própria vida nos faz seguir caminhos diferentes, enquanto nas veias caminham sangues análogos. Ver o outro e nos reconhecer mesmo vendo-o alheio ao seu mundo, à sua vida, à sua realidade. Como tentar uma reaproximação espontânea sem ferir os umbigos? Como diminuir a geografia entre as escolhas de cada um? A tia bacana do 'sutien' de couro, o qual achava a própria encarnação do movimento ‘new wave’, hoje é uma estranha num ninho longínquo jamais freqüentado. O primo ‘best friend forever’ da infância, hoje não passa de uma pessoa a qual você deve um mínimo grau de relação e pretende não encontrá-lo fora do âmbito familiar. A avó querida dos rijões e batatas coradas à moda do Minho aos domingos não entende um centímetro de quem és. Todos alçam vôos forçados umas três ou quatros vezes ao ano. Por uma culpa cristã. Existe um ódio mútuo gratuito não-declarado, mas sabido, alimentado apenas pela simples resistência em não gostar só porque é de livre e espontânea opressão. Talvez se assim não fosse amar-nos-íamos, nos escolher-nos-íamos, mas a obrigatoriedade em nosso gostar instaura uma barreira em nossos corpos, mentes e corações. ”Família é sempre boa no retrato pendurado na parede” dizia vovô parafraseando o seu próprio avô. Isto sempre disse muito sobre quem éramos, ou somos. Poucos são aqueles que percebem tal complexidade nesta relação engendrada pelo ódio amoroso, o conforto invejoso e a palmatória de pelúcia, com a justificativa da punição-salvadora. Eles a vêem como algo que existe por si só. Eles são felizes por ignorar. Eu sou inquieto por ser ignorado. Um a um e estamos aos quarenta e sete minutos do segundo tempo sem direito a acréscimos, pênalti ou prorrogação.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Escondo-me na casa de quem me ama.


O tempo voou, está voando por aí em nossa volta num raio de uns quarenta quilômetros. Qualquer medição de espaço físico é pequena perto da proximidade em que vivo do seu mundo. Sei de tudo e de mim não sabes nada, não fazes idéia do que sou hoje, enquanto eu, meu bem, sei cada rastro do seu andar rígido, teimoso em evitar. Hoje, canto todo o amor que houve um dia em mim. Hoje, a dor é prosopopéia nas cordas vocais e nos ouvidos ela penetra como droga ilícita no corpo frágil do dependente. Nossas juras em palavras adolescentes não condeno mais, mas há uma dependência pela sua indiferença. Um vício em não te ter. Assim.


Não repito mais. Calo.




quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Re(fé)m

Todo mundo tem um vício ligado a alguma conotação carnal. A criança na chupeta, o adulto no cigarro, ou no copo de bebida, alguns pelo sexo do outro, oposto, dos anjos, vício em chiclete, em bala ou pirulito. Cantar, morder ou assoviar. Enfim todos estes vícios de alguma forma envolvem a questão oral, da boca, do movimento físico que a mesma promove. Durante minha auto-observação constante e diária percebi o vicio maior que possuo: Amores impossíveis, o qual de certa forma está ligado a esta questão oral, mesmo que pela sua ausência. Sou viciado na falta de oralidade no outro, na falta de toque, de olhos, de afagos. Sou viciado na indiferença e na ignorância, em seu sentido primordial. Além é claro de todos os outros vícios anteriormente citados. Um reflexo da procura de um preenchimento para esta ausência que me completa e me mantém aqui. Beber, fumar e se arrepender, uma espécie de cup noodles, a morte lenta da geração 90’. A famosa automutilação cristã que não larga o individuo catequizado antes dos quinze. Pirando o cabeção por aí como se não houvesse o amanhã e perdendo a razão quando o tal amanhã finalmente chega mostrando que a poesia é linda no papel. Legitimando a dor psíquica como detentora da zona de conforto dos poetas roubados.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Certezas de um Janeiro incerto.

Difícil controlar a mente recebendo a sua visita nos sonhos, nos cantos e nos recados de meu pai. Você deu tchau e não foi embora. Aquela visita que se despede cento e trinta e sete vezes e não finda o contato visual. Como aqueles alunos de teatro tablado intensos no jogral, você não foi embora e eu fiquei. Aqui sem ter inteiro, tendo e nem tanto. Olho em volta e vejo o seu desejo, do qual não compartilho. Desgrudamos-nos como massa de modelar velha, gasta e suja de dedos escolares. Idéias mortas, coitos mal começados, gozo interrompido, uretra dolorida, dutos lacrimais em fluxo livre. Reflexos de uma vida que não houve. Vida desperdiçada. Vida repetida no erro de nosso medo de viver, de deixar ir, fluir. Amor de rima pobre, poesia ingênua, quase ruim, quase bela.