quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Por hora

O que ficou sem ser dito agora não tem a menor importância. A morte leva consigo a materialidade e deixa comigo a imaterialidade do seu ser. Porém tudo aquilo que havia de ter sido dito paira sobre o que fui um dia e o que talvez um dia juntos fossemos. Essa linha tênue me separa de você. A palidez do seu rosto me transporta para um lugar o qual eu não pretendia viver há sete dias passados. Nada mais faz sentido e eu me sinto repetido como um clichê francês. A conclusão não viera nos últimos dias e eu sem palavras deixo tudo assim: INACABADO. Por ora...

Vespertino

A culpa ilegítima o meu sentimento. O sonho de criança se assombra. O amor se corrompe. A vida se torna gélida e você se torna o caminho mais longo até o meu coração.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Escrita bipolar

Minha escrita se modificara nos últimos dias, não quanto ao conteúdo, não sei, talvez sim. Quanto à forma com certeza, a grafia mudara, sem sombra de dúvidas. Talvez devido à seqüência de vômito ocorrida na última semana. O fato me deixara com um tremor na mão direita por um determinado tempo. O olhar censurador da Rainha Branca, não me afetara mais como antes. Teria eu adquirido minha tão sonhada independência? Pela primeira vez em dias um sentimento de grandiosa euforia havia invadido o meu miocárdio e apesar do termo de cunho científico a sensação não poderia ser mais metafísica. Estava satisfeito por usar um par de botas que ganhara de presente no último natal, afinal de contas a primavera já havia chegado e o frio teimava em não ir embora para o norte. Acabara a leitura de um livro de 590 páginas. Sentia-me normal demais para o meu gosto. Será? Aconchego. Essa era sensação! O sentimento era intenso de verdade. Eu estava sentado em uma dura cadeira escolar cinza claro e o aconchego me confortara como se estivesse esparramado na cama dos meus pais acalentado por fofos edredons de algodão egípcio, como poderia? A bipolaridade me assolara, mas como? Era a personificação da esquizofrenia. Havia pouco estava mergulhado na mais profunda angústia e no presente momento degustava o doce sabor da euforia? Obtinha plena consciência de tudo. Conhecia o fato de que a felicidade era efêmera, o que a i - legitimava imediatamente. Felicidade temerosa era o que havia. Estava bipolarmente “peripético”.

Aprazível

Era primavera e a cabível fertilidade não havia aprazado minha vida. As pessoas com quem convivia diariamente pareciam pragas a destruir minhas grandes e belas folhas verdes. A perspectiva de um futuro incerto e no mínimo estressante se apresentara à minha realidade e por um instante tudo que havia construído até ali parecia se ruir como um castelo de areia que é levado pelo repuxar das ondas do mar na praia. O azul de Yves Klein não me dizia absolutamente nada, era um azul tão significante quanto a cor do velho uniforme da escola que estudara, o que não me trazia belas lembranças. A genialidade parecia-me completamente relativa e eu no alto de minha prepotência encarava o óbvio como o não óbvio e assim do contrário. Como poderia haver uma sincronicidade tão simpática, quando eu não queria nem olhá-lo nos olhos? Porém quando o fizera, levantamos nossas sobrancelhas simultaneamente arqueando-as como duas bocas comunicando-se sem querer.