segunda-feira, 6 de setembro de 2010

De - composiçao

Hoje eu acordei. Olhei para os lados e vi que tudo estava igual. Meu cachorro estava me esperando para ir à rua, meu telefone estava descarregado, fazendo um barulho que penetrava meus ouvidos como uma tesoura sem ponta e eu e eu estava ali -parado- como um gato de sofá olhando para o ventilador de teto empoeirado com a sensação de ter adormecido exatos 5 segundos. Sentia uma nostalgia presente, uma falta do que ainda iria sentir falta.

Eu havia decidido me libertar de você. Os nossos quatro anos já estavam se tornando cinco e eu não agüentava mais conviver com a sua ausente presença. Eu percebi que na verdade você nunca havia respondido a chamada, eu sempre havia respondido por você. Aí, na minha vida eu te reprovei por falta.

A gente não se via mais, e em um ano nos vimos o que? Três? Quatro vezes? Eu tinha certeza que tinha te eliminado da minha vida como uma urina, até que você reapareceu. Suspendeu meu habeas corpus e eu me vi preso de novo a você.

Enquanto isso, a única pessoa com quem eu dividia você era a minha outra personalidade de gemeos. Eu sempre fui dois, sempre a metade, dividido, nasci exatamente no meio ano: Dia, hora e minuto. Eu era dois, Eu “eram” dois. Nós éramos dois, eu e você, ou pelo menos o que eu criei de você para mim. E era esse você criado por mim que eu queria guardar dentro de um potinho de filme Kodak, para daqui a alguns anos ele estar mofado e nunca poder ser revelado.

Depois eu desisti, desisti de você, desisti de mim e desisti de tudo, e comecei a encarar tudo superficialmente e prometi para mim mesmo que só iria nadar na horizontal para não me afogar de novo. Me esvaziei completamente e me senti como uma samambaia de plástico e lembrei que o plástico demora duzentos anos para se decompor e então resolvi esperar.

Um comentário:

  1. Pedrinho estou chocada como você escreve bem. Eu adorei essa parte "na minha vida eu te reprovei por falta" isso é muito digno! E curioso mesmo esse fato de você ter nascido no meio do ano e toda essa metáfora que você criou. Amei!

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