quarta-feira, 7 de março de 2012

1 X 1 - Eu sou você

Caminho árduo é chegarmos a um consenso de identidade familiar quando a própria vida nos faz seguir caminhos diferentes, enquanto nas veias caminham sangues análogos. Ver o outro e nos reconhecer mesmo vendo-o alheio ao seu mundo, à sua vida, à sua realidade. Como tentar uma reaproximação espontânea sem ferir os umbigos? Como diminuir a geografia entre as escolhas de cada um? A tia bacana do 'sutien' de couro, o qual achava a própria encarnação do movimento ‘new wave’, hoje é uma estranha num ninho longínquo jamais freqüentado. O primo ‘best friend forever’ da infância, hoje não passa de uma pessoa a qual você deve um mínimo grau de relação e pretende não encontrá-lo fora do âmbito familiar. A avó querida dos rijões e batatas coradas à moda do Minho aos domingos não entende um centímetro de quem és. Todos alçam vôos forçados umas três ou quatros vezes ao ano. Por uma culpa cristã. Existe um ódio mútuo gratuito não-declarado, mas sabido, alimentado apenas pela simples resistência em não gostar só porque é de livre e espontânea opressão. Talvez se assim não fosse amar-nos-íamos, nos escolher-nos-íamos, mas a obrigatoriedade em nosso gostar instaura uma barreira em nossos corpos, mentes e corações. ”Família é sempre boa no retrato pendurado na parede” dizia vovô parafraseando o seu próprio avô. Isto sempre disse muito sobre quem éramos, ou somos. Poucos são aqueles que percebem tal complexidade nesta relação engendrada pelo ódio amoroso, o conforto invejoso e a palmatória de pelúcia, com a justificativa da punição-salvadora. Eles a vêem como algo que existe por si só. Eles são felizes por ignorar. Eu sou inquieto por ser ignorado. Um a um e estamos aos quarenta e sete minutos do segundo tempo sem direito a acréscimos, pênalti ou prorrogação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário