domingo, 15 de abril de 2012

La Usurpadora ou Te Vomitei

Sabe aquela sombra que te persegue onde quer que vá? Sabe aquele peso sentido nas costas quando o mal se aproxima? Pois é. Demorei meses para perceber toda a carga negativa vinda do interior. A energia veio aos poucos querendo engendrar-se como um elemento da infância, mas como tudo que tenta, mesmo que à força, uma legitimação da vida, mais cedo ou mais tarde se revela falso, barato e obscuro. Ela surgiu como um filho bastardo clamando pela acolhida, chorando pelos cantos o descaso sofrido, vitimizando-se por simplesmente ser. Aos poucos e com certa insistência inconveniente acomodou-se mesmo sem ninguém querer, um penetra, que chega à festa e faz de tudo para ser bem quisto e os convidados tomados por um sentimento de vergonha alheia acabam fazendo toda a cerimônia, rindo para não chorar. – Fique querida, você não é uma dos nossos, mas quem sabe possa vir a ser um dia?

Com o tempo tudo no corpo já a identificava como parte dele, uma parasita que uma vez engendrada em nossos corpos, o habita e se apropria mesmo sem ninguém querer. Uma lombriga, habitante da parte mais insalubre do corpo, um ser que se contenta com o resto, com o pior do que temos para oferecer. Mendiga que mesmo estando ali, todos os dias na rua a qual transitamos, passa a ser parte da nossa calçada, de modo que já não nos incomodamos mais. Simplesmente existe e damos atenção por uma prosaica relação forçada.

O fato é que ela fitava-me com freqüência e aos poucos esta, que nomino como energia, convenceu-me. Conseguiu lavar meu cérebro. Conseguiu se achegar. Sou presa fácil com pouca resistência. Por que não dar uma chance ao novo? Por que não abrir-se para o vazio e deixar que o mesmo se preencha com algo que venha mesmo de um lugar que a priori seja ilegítimo. Quem sabe com a minha imensa generosidade ela possa se enquadrar? Engano meu, máximo engano meu. Ela pede a mão, dou-te o braço e mesmo assim a danada sente-se out, filha ingrata, amaldiçoada pela mãe generosa. Desde já.

Chegamos a um ponto. Ela já não se sacia mais com o que dou. Tomou-me de tal maneira que de certo modo duvidei de minha própria personalidade. Será que estava pensando mesmo a partir de minha própria genialidade? Ou simplesmente ela estaria corrompendo-me aos poucos? Não se satisfazia mais em simplesmente me seguir, não queria mais stalkear, queria ser, queria me ser. Fodeu. Queria tudo em mim, do luxo ao podre, queria ser as minhas entranhas, queria ter o meu batimento cardíaco, queria mesmo defecar as minhas fezes. Não queria beber mais a minha urina, queria uriná-la em meu lugar. Queria o trapo o qual vestia nos dias frios, quando a vaidade errava a minha porta. O amor o qual dizia sentir ferozmente por mim era doença. Agora, ela ultrapassa a sensação mundana e emerge em meu espírito.

Quis tanto ser eu que, obviamente, não conseguiu. Virou uma cópia barata. Uma k7 com defeito, repetindo em slow motion a minha ladainha na forma equivocada. E na forma, como ela deveria saber por me estudar tanto, era algo rasteiro, superficial, que não mergulha que não mede o profundo. A única solução para ela naquele momento era nascer de novo, porém eu jamais poderia prever o ataque que se sucedeu de forma tão baixa e amoral. A leguminosa tentou roubar meu coração, tentou usurpar a base do meu sentimento, queria sentir no cerne do meu existir o que sinto. Aproximando-se do ariano tentou ver o que via, tentou amar no meu lugar. Não queria mais a imagem e semelhança, queria ser, na raiz da questão, o que apenas um louco, insano poderia tentar. Tentar o indizível, o impossível.

Hoje peço: - Saia pela porta dos fundos.

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